Olá a todos! Bem " Olhos de ressaca ", vamos ver...como se trata de um blog de textos, nada mais justo que fazer referencia ao grande escritor Machado de Assis, e um dos maiores romances brasileiros e de sua autoria, Dom Casmurro, sem fazer maiores descrições apenas usufruam da leitura, e tirem suas próprias conclusões(Criticas, deixem nos comentários), e então embriaguem-se.
Quando eu disser que te amo, ouça, e guarde essa três palavras, pois são verdadeiras.
Quando eu disser que te amo, não diga nada, só escute o eco de minhas palavras, dessas palavras vagas, simples e complexas.
Quando eu disser que te amo, se não for reciproco, de um sorriso, e abrace essas palavras, pois com elas saberá que existe alguém que se importa com você. Saberá que para uma pessoa você é e faz a diferença.
Quando eu disser que te amo, se for reciproco, só olhe em meus olhos, para que eu possa ver os seus. E não diga nada, quem ama não precisa dizer, só olhe em meus olhos. Não diga nada, pois palavras são confusas, deixe que o silencio fale por nós.
Quando eu disser que te amo, saibas que estarei mentindo, ou talvez omitindo, pois o que sinto não se diz.
Quando eu disser que te amo, se quiser saber a verdade, ou o que omito, deixe que o meu olhar diga ao seu tudo o que não consigo dizer, e então saberás a verdade. Deixe que o silencio expresse tudo o que não cabe em palavras.
Quando eu disser que te amo, e os segundos eternos dessa frase acabarem, e tivermos que nos despedir, continue sem dizer nada. Continue escutando o eco das palavras. O silencio se despedirá por nós.
Quando eu disser que te amo, e os segundos eternos dessa frase acabarem, e tivermos que nos despedir, enquanto caminhar para seu destino, olhe para trás, eu estarei olhando para você. E quando chegar em casa, se desejares, olhes para o céu, eu também estarei olhando, e Deus juntará os nossos olhares.
Quando eu disser que te amo, saibas que te digo que estarei sempre contigo, em qualquer lugar, a qualquer hora, para qualquer coisa. Saibas que podes contar comigo sempre.
Quando eu disser que te amo, saibas que não arrumei melhores palavras para dizer o que sinto, mas te digo, e deixo, o melhor sentimento: Eu te amo!
Devido ao meu computador voltar da assistência com o mesmo problema, estou impossibilitado de postar novos textos, portanto meu período de ausência se estenderá por mais um tempo, porem, será por um curto período, pois já planejo a compra de um novo computador muito em breve.
Minhas desculpas aos leitores, e em breve estarei de volta.
Retornei a cidade onde me criei, após trinta e dois anos de ausência, estivera sempre muito ocupado com as coisas do oficio, vendo e revendo casos, quase não saia do escritório, e quando saia, ele parecia continuar dentro de mim. O trabalho parecia ter se tornado um vicio, me fizera deixar todas as idéias de grandes planos de lado, por não poder executá-las por tempo ou, às vezes, por ter que desocupar espaço na memória para guardar as resoluções dos processos. Mas voltemos ao meu retorno, antes, porém, deixe-me expor os motivos, os que me forçaram a sair, e a voltar, e antes destes, permita-me que me apresente, sou Pedro Ortiz de Barcelos, advogado, com escritório no centro de São Paulo, vim de Ouro Preto em Minas Gerais, já deves ter ouvido falar dela. Agora que já me apresentei, deixe-me relatar os motivos, entretanto, leitor, digo-lhe, para que não fiques ansioso para saber o final da historia ou saber do que se trata, o que é aqui contado não passa de um relato de uma vida real, algo que poderia acontecer com qualquer um, mas que venho a expor no papel, por tanto não esperes por muito, o que aqui se passará, já é conhecido por ti.
O principal motivo que me fez sair, estava em uma casa que fica a duas de distancia, e na minha própria. Vou explicar melhor: A duas casas da minha, veio a se mudar, quando tinha sete anos de idade, uma nova família. Diga-se de passagem, eram muito simpáticos. Minha mãe e meu pai foram os primeiros a conhecê-los, se ofereceram para ajudar a arrumar a mobília, apresentar a vizinhança, a cidade, e como haveria de ser, até por lógica, nos tornamos famílias amigas, as duas famílias passavam horas umas nas casas das outras, falando sobre assuntos variados, tomando café. Lembro-me que eu ficava ao lado da minha mãe, não era de muitas palavras, e que palavras poderiam dizer um garoto de sete anos em uma conversa de adultos? Mas não era por isso que me mantinha calado, a timidez me forçara a isso, principalmente na presença da filha do casal recém chegado, eis o motivo da casa que fica a duas de distancia, ela era linda, todos da vizinhança diziam o mesmo, isso me deu a certeza que não era a cegueira da paixão que a fazia a mais bela das criaturas, mas não vamos gastar tinta e tempo com descrições físicas, se queres saber esses detalhes, colocarei alguns então, era morena, de cabelos levemente cacheados e castanhos, lindos, iam até a cintura, eram belíssimos, e quando balançados pelo ar, ou até mesmo por um movimento rápido, pareciam deslizar, sem atrito, como se o próprio ar, que desarruma tantos cabelos, tivesse medo de ir contra os dela, e seus olhos, eram castanhos, claríssimos, refletiam qualquer feixe de luz que houvesse, só para se fazerem reluzentes, eram como a cor do mel. Quanto às outras características, ao meu contrario, ela não era tímida, acho que foi isso que me encantou, ela que quebrara meu silencio, sempre que ia a sua casa, ela chamava-me para ir ao seu quarto, sua mãe dizia que passava o dia a me esperar, nós brincávamos, éramos dois criançolas. O tempo passou, nós crescemos, e o sentimento foi aflorando, descobrimos que nos gostávamos, confessamos um para o outro, no mesmo dia, dissemos que não dava mais para manter isso escondido, já que se tratava de algo tão grande, mas minha mãe também desconfiara que houvesse algo mais que amizade entre a gente, e como, não se sabe por que, as meninas que não são quietas, são menos tímidas, não são bem vistas aos olhos dos pais, minha mãe quis proibir o nosso “relacionamento”, que na época não passava de andar de mãos dadas. Não queria terminar, e também não queria decepcionar minha mãe, então passei a me encontrar as escondidas com Fernanda, saíamos as tardes, quando falávamos que iríamos a biblioteca estudar, mas acabamos sendo descobertos, para minha mãe isso bastou, nunca entendi o porquê de tanta raiva. Ela me mandou para São Paulo, aos quinze anos de idade, na despedida, Fernanda e eu, demos o nosso beijo mais intenso, choramos juntos, ficamos assim até que o ônibus chegou para buscar-me, não falamos muito, não tinha o que ser dito, o silencio bastou para demonstrar o quanto era sincero o que sentíamos, quando parti, não pensava em outra coisa, só Fernanda ocupava meus pensamentos, pensava em como viveria sem ela, se ela haveria de casar com outro, nesse mesmo tempo jurei que não haveria de casar com outra mulher. E esse é o motivo que me fez sair de Ouro Preto, a minha vida em São Paulo, não necessita de detalhes, estudei direito quando fiz dezoito, e depois de formado, trabalhei, sem tempo para distrações, apenas saídas com os antigos amigos de universidade, não custa dizer que não consegui esquecer Fernanda, mas não me passava pela mente a possibilidade de reencontrá-la, pensava que já teria se mudado e constituído família, passei a me acostumar com essa idéia, o que me trouxe um pouco de conforto ao sofrimento de me ver sem ela, por tanto ela não é o motivo que me fez voltar. Já havia tempo que deixei Ouro Preto, o contato com minha mãe se dava por correspondência, eu perguntava por Fernanda, ela não me respondia, apenas falava de seu cotidiano e perguntava sobre o meu.
Um dia em quanto andava, pela praça, um mendigo cego que pedia dinheiro, a quem eu deixei umas duas moedas, olhando para o nada sem saber quem havia dado as moedas, disse:
-Que Deus te abençoe! - Eu parei depois que ele disse, e fiquei fitando-o, pensando, mas não me lembro em que, ele se virou, segundos depois de pronunciar a frase anterior, e como se olhando em minha direção disse - Tu és feliz? - E se virou novamente, voltando ao seu estado normal, eu me virei apressei o passo, e não me distrai da pergunta, pensei nela durante dois dias seguidos, sem conseguir resposta, foi o que me levou a questionar o que fazia em São Paulo se não era o que eu realmente queria. Pensei em tirar dias para relaxar, mas aonde? Me veio a idéia de retornar as origens, reviver o passado, encontrar minha mãe, meu pai, abraçá-los, isso me levou a tirar as primeiras férias.E eis o motivo que me fez voltar, um mendigo cego, esse fato me fez pensar que esse mendigo não estava ali por acaso, foi algo a mais, talvez um enviado de Deus.
Quando voltei, passei pelo centro, onde Fernanda e eu costumávamos nos encontrar, mas passei direto, a saudade dos meus pais era o foco, fui o mais rápido que pude para a casa, ela permanecia do mesmo modo, até a mobília era a mesma, só mudara algumas coisas, e a posição delas, minha mãe continuava moça, não tão jovem quanto antes, mas não aparentava a idade que tinha, meu pai havia morrido, ela não me contou nas cartas para não me atrapalhar os estudos, eu chorei nos seus braços, e como estava com saudade dos braços, mas não queria ressenti-los dessa forma, o motivo que me trazia as lagrimas aos olhos, não deixava matar a saudade, queria senti-los, com um sorriso, com felicidade, não aos prantos. Descansei aquele dia, o passei ao lado de minha mãe, relembrando o passado, e rindo dele, foi o dia mais proveitoso da minha vida. No outro dia, fui rever a casa de Fernanda, a família tinha se mudado novamente, não perguntei sobre eles a minha mãe, para não relembrar o motivo que me fez sair da cidade, e manter a felicidade presente, depois fui rever os lugares que tínhamos ficado juntos, cada lugar era uma lembrança, podia quase que enxergar as coisas acontecendo ali, Fernanda e eu, juntos, aos sete anos, foi uma sensação única e indescritível, fiquei por horas só lembrando de como foi a infância naquele local, cada passo, cada momento, com cada detalhe, foi como redescobrir as coisas que importam, fiquei por ultimo me perguntando por que não regressei antes, por que precisou de trinta anos. Descobri que isso foi, e é a minha felicidade, e descobri tudo, graças a um mendigo.
Não sei como começar a narrar essa parte de minha historia, parte que não me orgulho, mas que a culpa que guardo dentro de mim, me força a colocá-lo para fora, e nessas horas, em que não se há confidentes, e que não poderia haver, pois é uma vergonha intima a que guardo, a folha e a pena são belas ouvintes, não reclamam, não criticam, não nos fazem sentir mais dor, apontando os nossos erros, os quais, já somos cientes e por isso nos fazem infelizes, talvez a confissão dele, ao único que poderia dar-me o perdão, e livrar me da culpa, fosse a melhor forma, hoje, já não podendo mais o fazer, sei que essa misera folha e a pena, por mais que me ouçam, não vão me dar o que é necessário para a limpeza da alma, e para o meu conforto, talvez, e é o que espero, um conforto, passageiro, até que a razão, ou a loucura, não sei o que dizer disso, venha aparecer dentro de minha alma, e venha me impedir de sorrir novamente. Você mesmo, leitor, há de confessar que já cometeu erros, e que eles, enquanto ainda os tinha na memória, com o peso da culpa, tiravam seu sono, e invadiam seus sonhos, de forma que se tornara desconfortável descansar, o meu é assim. Peço-te para que guarde segredo e não conte a ninguém, conto essa passagem para a folha, você que vens por vontade ler, por tanto, se vens por vontade, com a mesma vontade há de guardá-la, honre a ti mesmo, faça-se fiel, caso saiba que não és capaz de guardá-lo, nem comece a lê-lo, pare por aqui mesmo, para que não torne impuro o seu caráter, se pretendes continuar, saibas que como disse, mas não custa repetir, escrevo como forma de conseguir um conforto, um desabafo, então se continuares, eu lhe terei como amigo, por que me ouvistes, e guardastes o meu segredo, como nenhum outro fez, outra coisa que lhe peço antes de começar, é que não carregues minhas lamentações, escutar-me basta, já me é um grande obséquio.
Tudo se deu como algo comum, que vem a acontecer com qualquer um, apenas um furo na rotina das minhas sextas-feiras, sai do trabalho cansado, exausto da semana corrida, me dirigi a um bar, isso era para mim como um ritual, um decreto de que nos próximos dois dias eu finalmente teria o descanso que os meus músculos, e minha mente desejavam. Enquanto estava a me deliciar em um copo de cerveja, me aparece um amigo, demorei para reconhecê-lo, a aparência me era familiar, mas, não consegui descobrir dentro da memória maiores coisas, só me lembrei que fora um amigo da universidade. Ele cumprimentou-me:
-Olá, não lembras de mim?-O que me entregou, o esquecimento, deve ter sido o olhar de desconfiança que o lancei, sobre o que respondi, não menti:
-Para ser sincero...não!
-Como não?! Seu companheiro de estudos, Guilherme!- De fato, era Guilherme, a pessoa que mais me apeguei no curso de direito, me questionei durante um tempo como me esquecera dele, a conclusão que cheguei, é que deve ter sido a semana, e como estava no bar para relaxar, pensei em esvaziar a mente de toda e qualquer coisa, não importando o gênero das mesmas. Guilherme era um jovem rapaz, digno dos elogios que recebia, cheios de características louváveis, o admirava, não só como estudante, mas o seu caráter, nos tornamos amigos durante os estudos, o afeto que o tinha, se mantinha o mesmo, sei disso porque me arrependo de ter me esquecido dele, nesse intervalo de tempo, da formação até agora, a distancia não fez mais do que seu papel de separar, acabamos nos acostumando, mesmo assim ainda era guardado no coração como um grande amigo.
-Guilherme!- Eu disse surpreendido, não esperava encontrá-lo ali, me levantei para abraçá-lo, e nesse abraço saciei toda a saudade que tinha dele, e o usei como pedido de desculpas pelo esquecimento, meu medo era que ficasse do esquecimento, uma impressão, de que tudo que disse sobre nossa amizade fosse mentira, usei o abraço como forma de desmentir a impressão se é que a pensou, se não a pensou, ao menos serviu para demonstrar o tamanho afeto que ainda sentia.
-Como vai?-Perguntou-me.
-Vou bem, mas e você?
-Vou bem.-Foi ao final dessas palavras, que percebi que estava acompanhado, era uma bela moça, lindíssima, parecia separada por Deus, para ser a representante da beleza divina na terra, cada traço, assemelhava-se a suavidade das curvas que eram próprias das nuvens, seus cabelos, loiros e reluzentes, seus alhos azuis claríssimos.
Meu amigo e eu, conversamos, até o bar fechar, não me lembro as horas, mas, pouco importa isso, quando sabes que reencontrou um amigo, mais que isso, teve a oportunidade que conversar durante um tempo com ele, tempo suficiente para reatar os laços. Nossa conversa durou, umas duas horas, foi a melhor forma que gastei meu tempo, não durou muito por nada, conversamos sobre tudo, falávamos de nós mesmos, e de nossas mudanças, e o que acontecera depois da universidade, me deu seu telefone, e diariamente íamos um a casa do outro, e papeávamos durante horas, nos tornávamos melhores amigos novamente. Com esse contato, que era de meu agrado, veio também o meu pecado, cada vez que encontrava com Catarina, esse é o nome da esposa de Guilherme, tirava as mesmas conclusões, doe-me dizer isso, mas é por esse motivo que escrevo, de forma que não há absolvição sem confissão, a cada dia me apaixonava mais por ela, era algo involuntário, a dor que me dá em relatar isso, não se mede com nenhuma palavra, nas horas em que pensava nesse sentimento, meu coração parecia querer parar, até por minha vontade, creio que se tivesse o controle das batidas cardíacas, as teria feito ir a zero, tinha vontade de me fazer sofrer, qualquer tipo de tortura que me causasse dor física, para mim, não era suficiente para pagar por aquilo que sentia, fui indigno da amizade mais verdadeira que tive. Leitor se minhas letras agora ficam meio difíceis de se ler, é por que minhas mão estão tremulas, e se aparecem borrões, são as lagrimas que me desceram pelo rosto e pingaram o papel, perdoe-me por atrapalhar a sua leitura. Tudo que escrevi antes, já era para mim horrendo, o ódio que tinha de mim mesmo, desta maldita carne que me fizera cometer o maior pecado, contra a maior pessoa que conheci. Mas foi em um momento de fraqueza, que deixei minhas virtudes de lado, se é que ainda as tinha, e me tornei a mais medíocre das criaturas, um dia, quando fui visitar Guilherme, Catarina convidou-me para entrar, disse-me dentro de casa que ele viajou, e só iria voltar dai a dois dias, os pensamentos impuros que nunca achei que fossem capazes de habitarem dentro de mim, me dominaram, e me fizeram agir segundo eles, me embriaguei de vontades, e me rendi a elas, não tenho coragem, e o pouco de sensatez que me resta, me causam vergonha de dizer o que se deu de forma detalhada, vou ser mais direto agora, beijei Catarina, isso basta, não sei como consegui chegar em casa, não estava lúcido, meus passos eram incertos e cambaleava nas ruas, não olhava o que se passava, olhava na hora para dentro de mim, e me xingava com todas as palavras possíveis, tinha mais ódio ainda do meu corpo e do meu espírito, queria me ver na miséria, não me achava digno de nada que possuía. Quando cheguei em casa, ali permaneci durante meses, sem abrir portas e janelas, só saia para repor a comida que acabava no armário, não atendia aos telefonemas, fui demitido, vivia com o dinheiro que guardara a um tempo, quando o acabou, me tornei pedinte na porta da igreja, e um dia desses, passou Guilherme e Catarina, ela estava linda e graciosa como sempre, e Guilherme, parecia o mesmo homem, seguro das coisas. Meu estado era lamentável, por isso, creio que não me reconheceram. Minha vontade era não sair dessa situação, para pagar o preço dos meus pecados, mas como o ser humano tem tendência a escapar da justiça, voltei a viver “dignamente”, aos olhos da sociedade, recusando o castigo que me condenei, mas só quando soube da morte de Catarina, "como soube?" deves se perguntar, pois aqui vai a explicação: Guilherme me enviou cartas desde quando sumi, não pensaste que uma amizade tão importante com era a nossa, seria assim tão facilmente jogada aos vermes, em todas elas dava-me noticias sobre ele, uma delas foi falando sobre a morte de sua esposa, a ultima que me enviou, disse ter concluído, sem resposta as cartas que mandara anteriormente, que me mudei de endereço. Após conseguir um emprego, pedi transferência para outra cidade, fui para Curitiba, o mais longe que pude, só para evitar encontrar com o meu melhor amigo. Não sei mais de noticias dele, e ainda me bate saudade no peito, da amizade sincera que tive, a primeira e única, tão forte e frágil, que foi destruída por um beijo. Tentei esquecer a historia, me casei, com uma moça formosa, se me perguntas se gosto dela, sim gosto, mas apenas isso, casei para tentar esquecer, não por amor, muito me dói essa confissão também, mas se fez necessária, caso contrario não seria omitir parte da historia, seria torná-la uma mentira, e isso é uma coisa que não cabe em um desabafo. Hoje tenho filhos, não digo que sou infeliz, mas também não sou feliz, sinto um vazio, um remorso, dentro de mim, e acima de mim, a culpa que carrego, acho que me adaptei, e me lamento menos que antes, mas essas coisas não se esquecem, elas entram em nosso sorriso, e o tampam, mas não tenho motivos para sorrir, mas também não tenho para franzir o rosto, aproveito o máximo que posso o que me resta da vida, mas nada, nada, me enche o vazio que me foi deixado pelo meu pecado, talvez o perdão o tapa-se mas agora já é tarde.
Em um dia desses em que não se há nada com o que se ocupar, decidi que não iria permanecer na rotina, me levantei decidido a ir a algum lugar, perto, longe, novo ou não, não importava, o importante era romper com o tédio, típico dos sábados dos desocupados, porem não me vi disposto a ir longe de ônibus, então peguei o que passava em frente a minha casa, que tem como destino o terminal, lá decidiria melhor para onde iria, e de fato uma das descrições na placa, de um ônibus que não me lembro o número, me forneceu todas as respostas, naquele momento me vi totalmente resolvido, corri para não perde-lo, e saltei no shopping, não gosto muito da idéia de ir a shopping, mas quando não se há nada a fazer, fazer nada em um lugar diferente parece um tanto atrativo as mentes desocupadas, enquanto caminhava, esperando passar o tempo, eis que aparece o núcleo desse texto, ela aparece, perfeita, linda, se não te agradou o inicio da historia até agora, caro leitor, fique mais um pouco, lhe imploro, essa memória diverte até a mim mesmo, tudo que foi dito antes foram detalhes, supérfluos, a preparação do palco para o grande espetáculo, mas voltemos a vinda dela, perfeita, linda, o me coração acelerou, e como nessas horas, o mundo parece desacelerar a medida que as batidas do coração aumentam, acredito que quando senti o perfume dela, um aroma suave, tão gostoso como rosas, seria capaz de passar o resto da vida o sentindo, e só isso me bastaria para sobreviver, meus pensamentos entraram em uma velocidade absurda, e se focaram em todos os problemas que poderiam acontecer: " Nossa ela está ali! como que eu falarei com ela, que assunto eu puxo?" todos os meus textos decorados e frases feitas que esperavam somente essa oportunidade sumiram, o nervosismo os expulsou e tomou seus lugares, mas os pensamentos se mantiveram e de maneira desorganizada: " Ela está vindo para cá, falo 'oi, como você vai?', ' gatinha, e ae? tudo em cima?' é isso mesmo, a primeira, mas e se eu estiver com mal hálito? Babinha? Minhas pernas estão tremendo, como posso pará-las? e se eu estiver vermelho? Meu cabelo estiver despenteado por causa da janela do ônibus? E se ela disser não? Mas não a que? e se ela não me reconhecer? se eu estiver fedendo? Suado do ponto onde saltei até aqui?" mas mesmo que fosse lentamente o tempo passou, e ela veio ao meu encontro, olhou para mim, eu olhei para ela, ela sorriu, eu também sorri, ela disse "oi!" e eu disse " Tudo bem?" tudo sem deixar a verdade se revelar, escondendo o nervosismo dentro de mim mesmo onde ninguém mais tinha acesso, mas depois do "oi" ela se foi, da mesma maneira que apareceu, perfeita, linda, cheirosa, e o nervosismo de foi junto com ela, os textos voltaram, e todos os pensamentos foram em vão, muitos dirão que eu fui um tolo, ou coisas parecidas, não que eu discorde ou aceite, para ser franco, não formei uma idéia sobre isso, a única coisa que refleti sobre isso, foi que o lado bom de tudo, é ter uma historia para contar.
Lembro-me, mesmo passado tanto tempo, do primeiro dia de aula, do terceiro ano, reencontrei os amigos que me acompanharam na jornada dos dois anos anteriores, mas um rosto novo me apareceu, e não só a apareceu como domou o meu olhar, não me lembro se tentei ou não, desviar o olhar dela, lembro-me somente que se tentei não consegui, não me arrependo, graças a magia do caminhar dela, ou a minha fraqueza, ou por falta de culpados atribuiremos ao destino, que foi o responsável pela entrada dela, tenho gravado, com algumas falhas vindas de intrusas junto com idade, todo o trajeto, e os traços do rosto e do corpo, poderia representar fielmente em retratos cada momento, lembro-me até dos movimentos dos fios de cabelo, negros e ondulados, com curvas suaves, e que de tão escuros eram reluzentes, entretanto, no momento em que estava pronto a expor essas idéias aos meus companheiros de estudos, fui lento, ou apenas não era mesmo pra me pronunciar, apenas guardar as palavras dentro do peito, é o que vais entender no decorrer da historia, um dos meus companheiros, Bruno, se pronunciou primeiro:
-Que moça linda! Vocês à viram? Como é linda! - não só foi o primeiro a se pronunciar, como também foi o primeiro a se aventurar em tentar uma conversa com a menina que laçou meus olhos, se te perguntas leitor, se de fato foi com boas intenções que Bruno foi falar-lhe, lhe respondo que eu mesmo me fiz essa pergunta, sem obter resposta, deves agora se perguntar, como que eu que o conhecia tão bem, não sei o que se passou na mente dele, o fato é que não sei o que eles conversaram, não quis me meter, até para não acabar descobrindo algo que me magoaria, como descobrir que ela se interessou por ele, mas não sei por que descobrir essas coisas poderia me ferir, era a primeira vez que a via, não tinha como sentir algo, mas pensei que seria melhor prevenir. Meus contatos com a moça dos cabelos escuros se deram dias depois, meio que por acaso, ela estava chorando, me dirigi a ela para saber o que estava acontecendo, quando ela se virou, foi a primeira vez que reparei em seus olhos, pena que estavam vermelhos, mas mesmo assim a beleza não saiu com as lagrimas, ao invés disso, permanecera, lutando pelo seu espaço de direito, contra o vermelho e a irritação, me sentei ao lado dela e perguntei por que chorava, ela me olhou meio que desconfiada, acho que foi a primeira vez que reparou em mim, esperava que ela não me respondesse, ou que falasse para ir-me embora, porem ela cedeu mais espaço para eu sentar, e falou-me sobre os motivos que a faziam chorar, não os coloco aqui em público, para que descumpra o juramento que fiz de não contar a ninguém, se por ventura algum dia ela se interessar, e ler essa passagem de minha vida que dou de presente aos curiosos, não se zangue e não tenha duvidas sobre meu caráter e minhas promessas, entretanto nem tudo que foi dito foi segredo, não especifico tudo o que falamos, por se tratar de muitos assuntos, um puxando o outro, ou também por que não me lembro de toda a conversa, porem me lembro com todos os detalhes o jeito com o qual me falou seu nome, "Izabel", disse-me ela, abrindo um sorriso, suave e doce, logo a pós a pronuncia. Desde então nos tornamos amigos, conversávamos de tempo em tempo, creio que não existia segredos, se existiam, não me interessavam, de qualquer forma a verdade veio de forma amarga, como ela não me contou, o destino se encarregou de mostrar-me a verdade, quando saia, em uma das ultimas semanas de aula, passei normalmente pela rua, exceto por um motivo, nunca em todos os anos de estudo na escola, havia olhado para o lado, nesse dia, não sei por que, olhei, me surpreendi com o que vi, eram Izabel e Bruno, aos beijos no muro da casa vizinha a escola, me virei para frente fingindo não haver acontecido nada, forcei as lágrimas a ficarem dentro de mim, assim como todo o ar do choro, não me considere fraco leitor, se já, algum dia, fostes apaixonado por alguém que te rejeitou, sabes como é duro ver a pessoa amada com outra, aprecei o passo, quando entrei em casa não cumprimentei ninguém, não havia espaço para palavras dentro de mim, e tudo que estava guardado, estava prestes a sair. Fui rapidamente ao meu quarto, na cama cai e ali permaneci, ali dividi minhas magoas com o travesseiro, ele me ouviu durante as semanas seguintes também, provavelmente vais me considerar um fraco, mas não tive coragem de voltar a escola, como já havia conquistado a nota apropriada, não me preocupei, nem na formatura apareci, não me consideres tolo, se não sabes a dor que eu passei, pergunte para alguém que já a sentiu, se poderia lhe explicar, que nessas horas, só a morte parece trazer o conforto necessário ao coração, se alguma hora fui fraco, fui por não ter força de me levar a esse conforto, e preferir continuar a tortura. Depois disso evitei qualquer tipo de contato com os dois, mudei de telefone, e até de casa, mas nada que fosse para muito longe, na verdade no mesmo bairro só mudei a rua, foi a única forma que encontrei de evitar o sofrimento, mas como já era previsto, tornei a encontrá-los, anos depois em um mercado, os dois estavam casados, dai vem a duvida da intenção da primeira conversa, ela ainda estava linda, mas preferi não reparar me escondi, não falei com eles, larguei as compras e me dirigi de volta a minha casa. Podes não acreditar mas não suportaria vê-los juntos, mesmo agora, mais de quinze anos depois, minha saída então foi mudar-se, mas agora mudei de cidade, confesso que não os vi mais, a distancia trouxe um certo esquecimento, o que me permitiu continuar a vida, casei, tenho filhos, mas não posso negar que ao beijar minha mulher, penso em como seria beijar Izabel.