Lembro-me, mesmo passado tanto tempo, do primeiro dia de aula, do terceiro ano, reencontrei os amigos que me acompanharam na jornada dos dois anos anteriores, mas um rosto novo me apareceu, e não só a apareceu como domou o meu olhar, não me lembro se tentei ou não, desviar o olhar dela, lembro-me somente que se tentei não consegui, não me arrependo, graças a magia do caminhar dela, ou a minha fraqueza, ou por falta de culpados atribuiremos ao destino, que foi o responsável pela entrada dela, tenho gravado, com algumas falhas vindas de intrusas junto com idade, todo o trajeto, e os traços do rosto e do corpo, poderia representar fielmente em retratos cada momento, lembro-me até dos movimentos dos fios de cabelo, negros e ondulados, com curvas suaves, e que de tão escuros eram reluzentes, entretanto, no momento em que estava pronto a expor essas idéias aos meus companheiros de estudos, fui lento, ou apenas não era mesmo pra me pronunciar, apenas guardar as palavras dentro do peito, é o que vais entender no decorrer da historia, um dos meus companheiros, Bruno, se pronunciou primeiro:
-Que moça linda! Vocês à viram? Como é linda! - não só foi o primeiro a se pronunciar, como também foi o primeiro a se aventurar em tentar uma conversa com a menina que laçou meus olhos, se te perguntas leitor, se de fato foi com boas intenções que Bruno foi falar-lhe, lhe respondo que eu mesmo me fiz essa pergunta, sem obter resposta, deves agora se perguntar, como que eu que o conhecia tão bem, não sei o que se passou na mente dele, o fato é que não sei o que eles conversaram, não quis me meter, até para não acabar descobrindo algo que me magoaria, como descobrir que ela se interessou por ele, mas não sei por que descobrir essas coisas poderia me ferir, era a primeira vez que a via, não tinha como sentir algo, mas pensei que seria melhor prevenir. Meus contatos com a moça dos cabelos escuros se deram dias depois, meio que por acaso, ela estava chorando, me dirigi a ela para saber o que estava acontecendo, quando ela se virou, foi a primeira vez que reparei em seus olhos, pena que estavam vermelhos, mas mesmo assim a beleza não saiu com as lagrimas, ao invés disso, permanecera, lutando pelo seu espaço de direito, contra o vermelho e a irritação, me sentei ao lado dela e perguntei por que chorava, ela me olhou meio que desconfiada, acho que foi a primeira vez que reparou em mim, esperava que ela não me respondesse, ou que falasse para ir-me embora, porem ela cedeu mais espaço para eu sentar, e falou-me sobre os motivos que a faziam chorar, não os coloco aqui em público, para que descumpra o juramento que fiz de não contar a ninguém, se por ventura algum dia ela se interessar, e ler essa passagem de minha vida que dou de presente aos curiosos, não se zangue e não tenha duvidas sobre meu caráter e minhas promessas, entretanto nem tudo que foi dito foi segredo, não especifico tudo o que falamos, por se tratar de muitos assuntos, um puxando o outro, ou também por que não me lembro de toda a conversa, porem me lembro com todos os detalhes o jeito com o qual me falou seu nome, "Izabel", disse-me ela, abrindo um sorriso, suave e doce, logo a pós a pronuncia. Desde então nos tornamos amigos, conversávamos de tempo em tempo, creio que não existia segredos, se existiam, não me interessavam, de qualquer forma a verdade veio de forma amarga, como ela não me contou, o destino se encarregou de mostrar-me a verdade, quando saia, em uma das ultimas semanas de aula, passei normalmente pela rua, exceto por um motivo, nunca em todos os anos de estudo na escola, havia olhado para o lado, nesse dia, não sei por que, olhei, me surpreendi com o que vi, eram Izabel e Bruno, aos beijos no muro da casa vizinha a escola, me virei para frente fingindo não haver acontecido nada, forcei as lágrimas a ficarem dentro de mim, assim como todo o ar do choro, não me considere fraco leitor, se já, algum dia, fostes apaixonado por alguém que te rejeitou, sabes como é duro ver a pessoa amada com outra, aprecei o passo, quando entrei em casa não cumprimentei ninguém, não havia espaço para palavras dentro de mim, e tudo que estava guardado, estava prestes a sair. Fui rapidamente ao meu quarto, na cama cai e ali permaneci, ali dividi minhas magoas com o travesseiro, ele me ouviu durante as semanas seguintes também, provavelmente vais me considerar um fraco, mas não tive coragem de voltar a escola, como já havia conquistado a nota apropriada, não me preocupei, nem na formatura apareci, não me consideres tolo, se não sabes a dor que eu passei, pergunte para alguém que já a sentiu, se poderia lhe explicar, que nessas horas, só a morte parece trazer o conforto necessário ao coração, se alguma hora fui fraco, fui por não ter força de me levar a esse conforto, e preferir continuar a tortura. Depois disso evitei qualquer tipo de contato com os dois, mudei de telefone, e até de casa, mas nada que fosse para muito longe, na verdade no mesmo bairro só mudei a rua, foi a única forma que encontrei de evitar o sofrimento, mas como já era previsto, tornei a encontrá-los, anos depois em um mercado, os dois estavam casados, dai vem a duvida da intenção da primeira conversa, ela ainda estava linda, mas preferi não reparar me escondi, não falei com eles, larguei as compras e me dirigi de volta a minha casa. Podes não acreditar mas não suportaria vê-los juntos, mesmo agora, mais de quinze anos depois, minha saída então foi mudar-se, mas agora mudei de cidade, confesso que não os vi mais, a distancia trouxe um certo esquecimento, o que me permitiu continuar a vida, casei, tenho filhos, mas não posso negar que ao beijar minha mulher, penso em como seria beijar Izabel.
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